sábado, 29 de janeiro de 2011

Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre a aprendizagem

Platão, Aristóteles e Jean Piaget pensaram em diferentes concepções sobre a aquisição dos conhecimentos. Conheça as bases de cada uma

Seja bem-vindo a uma investigação que já dura mais de 2 mil anos e não tem data para acabar. Em torno das indagações que ela provoca, estudiosos das mais diversas áreas de conhecimento humano gastaram toneladas de saliva, montanhas de papel e enorme esforço intelectual. O desafio de dois milênios pode ser resumido em duas perguntas: como o ser humano aprende? E como criar as melhores condições possíveis para que o aprendizado ocorra na escola? 

Inatismo, o saber congênito

A busca por respostas começa na Antiguidade grega, com o nascimento do pensamento racional, que busca explicações baseadas em conceitos (e não mais em mitos) como uma forma de entender o mundo. Para os primeiros filósofos, a dúvida consistia em saber se as pessoas possuem saberes inatos ou é se possível ensinar alguma coisa a alguém. 

Platão (427-347 a.C.) firmou posição a favor das ideias congênitas. Defendendo a tese de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento, o discípulo de Sócrates (469-399 a.C.) afirmou que conhecer é relembrar, pois a pessoa já domina determinados conceitos desde que nasce. 

Chamada de inatismo, essa perspectiva sustenta que as pessoas naturalmente carregam certas aptidões, habilidades, conceitos, conhecimentos e qualidades em sua bagagem hereditária. Tal concepção motivou um tipo de ensino que acredita que o educador deve interferir o mínimo possível, apenas trazendo o saber à consciência e organizando-o. "Em resumo, o estudante aprende por si mesmo", escreve Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no livro Educação e Construção do Conhecimento. 

Mesmo que a noção de aprendizado como reminiscência não encontre eco na ciência contemporânea, algumas ideias inatistas ainda pipocam nas salas de aula. Para o bem e para o mal: se por um lado é interessante levar os alunos a procurar respostas para suas inquietações com independência crescente, por outro é lamentável que muitos docentes sigam explicando o baixo rendimento escolar de certos estudantes (sobretudo os de "lares desestruturados") porque eles "não têm habilidade para aprender".



Inatismo
Precursor: Platão (427-347 a.C.)
Pesquisa iconográfica: Josiane Laurentino. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Defende que as pessoas nascem com saberes adormecidos que precisam ser organizados para se tornar conhecimentos verdadeiros. O professor só auxilia o aluno a acessar as informações.

Trecho de livro comentado
"Mas o deus que vos modelou, àqueles dentre vós que eram aptos para governar, misturou-lhes ouro na sua composição, motivo por que são mais preciosos; aos auxiliares, prata; ferro e bronze aos lavradores e demais artífices."
Platão, no livro A República

Comentário
Platão diz que o homem nasce com certas características físicas e que elas justificam a posição social de cada um. Ser apto a governar ou trabalhar como auxiliar é resultado de uma vontade divina. Não se considera nenhuma possibilidade de mudança.



Empirismo, a absorção do conhecimento externo
Aristóteles (384-322 a.C.) apresentou uma perspectiva contrária à de Platão (como se vê no quadro resumo, abaixo). Segundo ele, embora as pessoas nasçam com capacidade de aprender, elas precisam de experiências ao longo da vida para que se desenvolvam. A fonte do conhecimento são as informações captadas do meio exterior pelos sentidos. Ideias como essa impulsionaram o empirismo, corrente favorável a um ensino pela imitação - na escola, as atividades propostas são as que facilitam a memorização, como a repetição e a cópia.

"Os empiristas acreditavam que as informações se transformam em conhecimento quando passam a fazer parte do hábito de uma pessoa", explica Clenio Lago, professor de Filosofia da Educação na Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), em São Miguel do Oeste. Absorvidos tal como uma esponja retém líquido, os dados aprendidos são acumulados e fixados - e podem ser rearranjados quando outros conteúdos mais complexos aparecem. A mente humana é definida como uma tábula rasa, um espaço vazio a ser preenchido. "A criança é comparada à água, que pode ser canalizada na direção desejada", diz Lago.

Nos séculos 16 e 17, em plena Idade Moderna, essa perspectiva ganha força com filósofos como Francis Bacon (1561-1626), Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704). Do ponto de vista dos empiristas, caberia à escola formar um sujeito capaz de conhecer, julgar e agir segundo os critérios da razão, substituindo as respostas "erradas" absorvidas no contato com diversos meios (a religião, por exemplo) pelas "certas", já validadas pelos acadêmicos por seguirem os critérios científicos da época.

Apesar dos séculos de distância, o fato é que algumas práticas empiristas seguem presentes no dia a dia das escolas. "Até hoje, o conhecimento é visto por muitos como um produto que pertence ao professor", explica Becker. Os especialistas formulam outra crítica à corrente: nem sempre ideias simples dão elementos para compreender as mais complexas. Dito de outra forma, não basta acumular informações para aprender.


Empirismo
Precursor: Aristóteles (384-322 a.C.)
Pesquisa iconográfica: Josiane Laurentino. Foto: The Bridgeman/Keystone
Sustenta que o conhecimento está na realidade exterior e é absorvido por nossos sentidos. O professor é quem detém o saber. O aprendizado é obtido por meio da cópia, seguida de memorização.

Trecho de livro comentado
"As virtudes, portanto, não são geradas em nós nem através da natureza nem contra a natureza. A natureza nos confere a capacidade de recebê-las, e essa capacidade é aprimorada e amadurecida pelo hábito."
Aristóteles, no livro Ética a Nicômaco

Comentário
O autor critica o inatismo, chamando a atenção para o fato de que não é a "natureza" a responsável por nossos saberes (no trecho, chamados de "virtudes"). Para Aristóteles, os conhecimentos são absorvidos como resultado da prática - quando se tornam hábito.

Construtivismo, a tentativa de caminho do meio

Com inatismo e empirismo apontando para lados opostos ("O saber está no indivíduo" versus "O saber está na realidade exterior"), o século 20 nasceu com uma tentativa de caminho do meio para explicar o aprendizado: a perspectiva construtivista. De acordo com essa linha, o sujeito tem potencialidades e características próprias, mas, se o meio não favorece esse desenvolvimento (fornecendo objetos, abrindo espaços e organizando ações), elas não se concretizam.
A presença ativa do sujeito diante do conteúdo é essencial - portanto, não basta somente ter contato com o conhecimento para adquiri-lo. É preciso "agir sobre o objeto e transformá-lo", como diz Jean Piaget (1896-1980) (leia o quadro abaixo). Foi o cientista suíço quem cunhou o termo construtivismo, comparando a construção de conhecimento à de uma casa, que deve ter materiais próprios e a ação de pessoas para que seja erguida.
Embora seus estudos não tenham sido feitos para aplicação em sala de aula - por isso, é um equívoco falar em "método construtivista de ensino" -, suas teorias inspiraram as obras sobre Educação popular de Paulo Freire (1921-1997), sobre Matemática de Constance Kamii, sobre ética de Yves de la Taille e sobre a psicogênese da língua escrita de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Nas últimas três décadas, elas também têm influenciado investigações nas chamadas didáticas específicas de cada disciplina.

Pela concepção construtivista, o professor deve criar contextos, conceber ações e desafiar os alunos para que a aprendizagem ocorra. "O conhecimento não é incorporado diretamente pelo sujeito: pressupõe uma atividade, por parte de quem aprende, que organize e integre os novos conhecimentos aos já existentes", escreve Teresa Mauri em O Construtivismo na Sala de Aula.

É claro que nem tudo cabe debaixo do chapéu do construtivismo. Entre os mal-entendidos, um dos mais comuns é considerar que o professor construtivista não apresenta conteúdos nem orienta seus alunos. "Professor que não ensina não é construtivista", afirma Becker. Para que haja o avanço dos alunos, o docente precisa tomar muitas decisões: considerar as demandas da turma, propor questões e desafios e pensar formas de promover ações que gerem aprendizado. "O educador deve dominar sua área e conhecer os processos pelos quais o aluno aprende os mais diferentes conteúdos", diz.

Ao pesquisar a maneira como a criança pensa, Piaget chamou a atenção para o papel da interação para explicar como o conhecimento se origina e se desenvolve. Por essa via, aproximou-se de pesquisadores como Lev Vygotsky (1896-1934) e Henri Wallon (1879-1962). Embora os registros históricos indiquem que Wallon e Vygostky não conviveram diretamente com Piaget, são muitos os pontos de contato entre o construtivismo piagetiano e a perspectiva defendida pela dupla, o sociointeracionismo. Segundo ela, o processo de aprendizagem se dá pela relação do aprendiz com o meio (ambiente familiar e social, professores, colegas e o próprio conteúdo). Você conhece mais detalhes sobre as duas perspectivas nas próximas reportagens da série.


Construtivismo
Precursor: Jean Piaget (1896-1980)
Pesquisa iconográfica: Josiane Laurentino. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Estabelece que a capacidade de aprender é desenvolvida e construída nas ações do sujeito por meio do contato ativo com o conhecimento, que é facilitado pelo professor.

Trecho de livro comentado
"Pensar não se reduz, acreditamos, em falar, classificar em categorias, nem mesmo abstrair. Pensar é agir sobre o objeto e transformá-lo."
Jean Piaget, no livro Problemas de Psicologia Genética

Comentário
Citando características do pensamento científico clássico (enunciação, classificação e abstração), Piaget afirma que o aprendizado necessita também da ação de quem aprende (formulando hipóteses para entender o objeto de conhecimento, por exemplo).

O sujeito epistêmico de Piaget

Para explicar como todos podem aprender e o desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget reuniu saberes da Biologia, da Psicologia e da Filosofia no conceito do sujeito epistêmico

Elisângela Fernandes mailto:novaescola@atleitor.com.br
Mesmo sem ser pedagogo, o cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um dos pensadores mais influentes da Educação. Sua atualidade e repercussão na sala de aula devem-se, principalmente, ao incessante trabalho em compreender como se desenvolve a inteligência humana. Entre estudos e pesquisas, que renderam mais de 20 mil páginas, um conceito perpassa toda a sua obra: a ideia do sujeito epistêmico. Segundo Piaget, esse "sujeito" expressa aspectos presentes em todas as pessoas. Suas características conferem a todos nós a possibilidade de construir conhecimento, desde o aprendizado das primeiras letras na alfabetização até a estruturação das mais sofisticadas teorias científicas.

Que características tão especiais são essas? "Basicamente, a capacidade mental de construir relações", explica Zélia Ramozzi-Chiarottino, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Essa habilidade permite o desenvolvimento de uma gama de operações essenciais para a aquisição do saber: observar, classificar, organizar, explicar, provar, abstrair, reconstruir, fazer conexões, antecipar e concluir - ações que, de fato, todos temos o potencial de realizar. Um esquimó, por exemplo, é capaz de diferenciar a paisagem fria e se localizar no gelo assim como um índio brasileiro sabe caminhar pela Floresta Amazônica sem se perder. Em ambos os casos, o modo de classificar (no caso, mapear) e reconhecer o espaço geográfico é o mesmo. O que muda é a coisa classificada, que varia de acordo com o meio.

O conceito de sujeito epistêmico começou a tomar forma quando Piaget iniciou seus estudos sobre o processo de construção de conhecimentos de Matemática e Física na criança pequena. "Ele é considerado o inaugurador da epistemologia genética, teoria que investiga a gênese do conhecimento, tema que estava ausente das pesquisas até o fim do século 19", diz Lino de Macedo, também do Instituto de Psicologia da USP. Até então, as formulações sobre o desenvolvimento da inteligência eram uma exclusividade dos filósofos. As ideias de um deles, o alemão Immanuel Kant (1724-1804), tiveram grande impacto na obra de Piaget. Kant foi um dos primeiros a sugerir que o conhecimento vem da interação do sujeito com o meio - uma alternativa ao inatismo, que considerava o saber como algo congênito, e ao empirismo, que encarava o saber como um elemento externo que só podia ser adquirido pela experiência.

Ao retrabalhar as proposições de Kant, Piaget concordou com a ideia da interação sujeito/meio - mas foi além, afirmando que o desenvolvimento das estruturas mentais se inicia no nascimento, quando o indivíduo começa o processo de troca com o universo ao seu redor. Ele também destacou a necessidade de uma postura ativa para aprender. Imagine, por exemplo, uma pessoa que more a vida inteira numa montanha. Ela pode nunca saber que existem terras baixas, planícies e vales de rio. Por outro lado, se decidir fazer uma viagem morro abaixo, vai conhecer a paisagem de seu entorno e, por meio das relações (comparação e classificação, por exemplo), vai entender que a montanha é um elemento natural diferente dos demais. "Para que o processo de estruturação cognitiva ocorra, é fundamental a ação do sujeito sobre o meio em que vive. Sem isso, não há conhecimento", completa Zélia

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Jogos e infância

Do Artigonal:

A Importância dos jogos para o desenvolvimento psicológico da criança

Por Tamiris Lima



Segundo Huizinga (1995) o jogo pode ser considerado como uma atividade livre, conscientemente tomada como “não-séria” e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de grupos sociais com tendências a rodearem-se de segredo e a sublinharem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio de disfarces ou outros meios semelhantes.

Para Platão e outros pensadores da Grécia antiga era importante que as crianças em seus primeiros anos de vida e ambos os sexos deveriam ser educados com jogos educativos e deveria começar aos sete anos. Era contra os jogos competitivos, pois não valorizavam o caráter e a personalidade fazendo com que as crianças acabassem tendo uma formação danificada. (NUNES DE ALMEIDA, 1998).
Para os egípcios, maias, romanos, os jogos eram passados para os jovens de geração a geração pelos mais velhos onde aprenderiam através de seus ensinamentos valores e conhecimento para as normas sociais do padrão de vida. ‘Com a ascensão do cristianismo, os jogos foram perdendo seu valor, pois eram considerados profanos e imorais e sem nenhuma significação. ’ (NUNES ALMEIDA, 1998).
No brincar, a criança lida com sua realidade interior e sua tradição livre da realidade exterior. (MARCONDES, MARINA, 1994). Segundo Marcondes Marina (1994), o brincar com o seu próprio corpo significa descobrir a si mesmo. O que para uma criança é uma festa, pois começa a inventar joguinhos, como fechar e abrir os olhos como se estivesse achando algo ou escondendo-se.
A criança que brinca livremente do seu jeito, a sua maneira acaba transmitindo seus sentimentos, idéias, fantasias. Brincar é também raciocinar, descobrir, persistir e perseverar; aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar; esforçar-se, ter paciência, não desistindo facilmente. Brincar é viver criativamente no mundo.Ter prazer em brincar é ter prazer em viver; (MARCONDES ,MARINA,1994)
Brincar sem imposições de regras rígidas e impostas torna o ato de brincar mais espontâneo e acaba que a criança por seu próprio pensar, cria, recria e modifica. Essa vasta possibilidade que o jogo possibilita no momento do brincar proporciona o momento da aprendizagem aguçando sua criatividade, seu pensar e seu modo de agir com o meio.
Segundo Marcondes Marina (1994), brincar para criança pequena é fonte de autodescoberta, prazer e crescimento. Segundo Piaget (1975b), os jogos estão diretamente ligados ao desenvolvimento mental da infância; tanto a aprendizagem quanto as atividade lúdicas constituem uma assimilação do real. Almeida (1995) diz que a brincadeira simboliza a relação pensamento-ação da criança, e, sendo assim, constitui-se provavelmente na matriz formas de expressão da linguagem (gestual, falada e escrita). Os jogos têm um papel no desenvolvimento psicomotor e no processo de aprendizado de domino do social da criança, através dos jogos é possível exercitar os processos mentais e o desenvolvimento da linguagem e hábitos sociais. (DINELLO, 1984 AUPD SERAPIÃO, JOÃO, 2004).
O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função de suas necessidades múltiplas do eu. (PIAGET APUD SERAPIÃO, JOÃO, 2004). Através de jogos é possível que a criança tenha uma dimensão de tempo (antes - depois), quantidade (pouco - muito), compreensão da seqüência (inicio-fim). (HARTLEY, 1971).
Para Pettry (1988) o jogo é uma atividade própria da criança e esta centrada no prazer que proporciona a ela. Brincadeiras com o corpo em movimento auxiliam as crianças a compreender e a relacionar conceitos de: perto, longe, atrás, mais perto, em cima, na frente, ou seja, ela sustenta o que Hartley já havia dito sobre a importância da criança brincar ou jogar. É possível desenvolver relacionamentos, pois o ato de brincar, jogar é necessário que haja uma interação, pois assim o aprendizado torna-se mais eficaz para ambas as crianças, pois a troca de conhecimento é vasta.
Bijou (1978) faz uma distinção entre o jogo estruturado e o livre (espontâneo), onde o jogo estruturado é aquele em que a criança se engaja em um determinado ambiente onde os matérias, instruções, ajudas implícitas e explicitas são feitas para ajudarem a criança a alcançar seu objetivo, ou seja é induzida na forma ‘certa’ de brincar e de chegar ao destino desejado da brincadeira. Já no jogo livre (espontâneo) é onde o objetivo e o brinquedo são escolhidos naturalmente pela criança, para Piaget sua importância a esse tipo de jogo é incentivado e motivador no processo da aprendizagem, já que este dá a criança uma razão própria que faz exercer de maneira significativa sua inteligência e sua necessidade de investigação ( PIAGET, 1994, apud GIOCA, MARIA INEZ, 2001).
Segundo o Referencial Curricular Nacional (1998) a criança precisa brincar, ter prazer e alegria para crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo e através do lúdico a criança desenvolve. Segundo Gilles (1998), o jogo se inscreve num sistema de significações que nos leva, por exemplo, a interpretar como brincar, em função da imagem que temos dessa atividade.
É a construção do conhecimento, principalmente, nos períodos sensório motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas estruturam seu espaço, seu tempo, desenvolvem a noção de casualidade chegando a representação e, finalmente a lógica (PIAGET, 1994 apud GIOCA, MARIA INEZ, 2001).

Trabalhando o imaginário

Segundo Gallahue (2008) a criança através do jogo trabalha o imaginário, joga como se tal coisa fosse o que não é, como se estivesse em tal sitio onde não está, como se visse tal paisagem que não vê. As coisas no jogo não são o que são, mas como se fossem outra coisa. E as outras crianças que entram no jogo não são o que são, mas como se fossem outras crianças, incorporando personagens. A linguagem do jogo é a do modo condicional: isto seria uma casa, tu serias a cozinheira, eu seria a mãe e, um pouco depois, todas aquelas coisas já o são. Na sua imaginação, a criança forjou uma nova realidade.
Segundo Samulski (2005) o jogo é o melhor caminho que encontra para mostrar a sua personalidade. O pai que queira saber como é o seu filho, que o deixe jogar e, respeitando o seu jogo, observe-o como é. Se preferir os jogos de composição ou os que se desmancham, daí poderá deduzir o seu espírito de construção ou de conquista, se preferir os de invenção ou os de análise, poderá deduzir uma tendência para a vida ativa ou para a especulação; se preferir os jogos sossegados ou os violentos poderá deduzir a tendência para a vida contemplativa ou ativa; se joga com ordem ou desordenadamente, se é constante nos seus jogos ou se os varia a cada momento, se prefere jogar acompanhado ou quer jogar sozinho, se jogando oferece a vitória ou a retém se manda ou obedece. Através do jogo passa toda a psicologia da criança; e a personalidade do adulto na hora do trabalho ou do convívio social, é ainda o reflexo da personalidade que demonstrou com os seus jogos quando era menino.

Conclusão
Concluímos que através dos jogos as crianças desenvolvam um melhor relacionamento com outras crianças e com adultos e por meio dos jogos poderem interagir com o meio em que estão inseridas lhes proporcionando um auto-conhecimento de si próprias tendo vista que essas descobertas as fascinam, pois um mundo novo é inserido e descoberto.